sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

HAMARTIOLOGIA


HAMARTIOLOGIA


INTRODUÇÃO

A Escritura Sagrada nos relata que no princípio Deus criou todas as coisas, inclusive a sua obra prima, coroa da criação, o homem. Ao finalizar toda sua obra, viu Deus que tudo era bom, Gn 1:31. Deus não criou o mal, tudo que Ele fez não tinha sombra de invariação. Mas o homem por seu livre arbítrio abriu espaço para conviver com o pecado, preferindo desobedecer a Deus.
Portanto, a Bíblia nos mostra claramente a origem de todo o mal no mundo; mas apesar disto há ainda pessoas fazendo as seguintes perguntas: Donde veio o mal? Deus criou o mal?
Respondendo a estas perguntas dentro de uma ótica Bíblica, é que preparei este humilde e curto trabalho através de pesquisa. Creio que talvez, muitas coisas faltou a ser colocada nesta obra, mas espero que seja de valia e ajuda para os estudantes de Seminários e estudantes da Bíblia Sagrada.













Observação: Esta apostila foi devidamente elaborada pelo Pr. ADENILTON SOUZA SILVA, com o objetivo de usá-la em estudos bíblicos em série e, em Seminários Teológicos.










HAMARTIOLOGIA

I) ETIMOLOGIA

1 – A palavra pecado ocorre cerca de 440 vezes no texto bíblico.

2 – Hamartiologia é um vocábulo que se deriva do grego HAMARTIA. Que significa pecado e LOGOS, que quer dizer estudo, tratado. Isto posto, Hamartiologia é o estudo sobre a Doutrina do pecado.

3 - A Doutrina do pecado é sumamente importante e deve merecer atenção especial de cada sincero estudante da Bíblia Sagrada. Se por quaisquer razões a negligenciar as verdades bíblicas concernentes ao pecado, deixarmos de possuir a verdadeira noção da Obra Redentora de Cristo.

4 – O pecado é uma das mais cruéis realidades do mundo que nos ródia e é em impossível ignorá-lo. Por causa do pecado, os homens padecem dores, enfermidades, angustias, condenação e morte. O pecado, afirmou um célebre pregador, “é a maior mancha do mundo”.
II) A ORIGEM DO PECADO

O problema do mal que há no mundo sempre foi considerado um dos mais profundos problemas da filosofia e da teologia. Os filósofos foram constrangidos a encarar o problema e a procurar resposta quanto á origem de todo o mal, e particularmente do mal moral, que há no mundo.
Outros, porém, estão convictos de que o mal teve uma origem voluntária, isto é, que se originou na livre escolha do homem, quer na existência atual, quer numa existência anterior. Estes se acha bem mais perto da verdade revelada na Palavra de Deus.

1 – O CONCEITO HISTÓRICO DA ORIGEM DO PECADO

Os mais antigos “pais da igreja”, assim chamados, não falam muito definidamente da origem do pecado, enquanto a idéia de que se originou na voluntária transgressão e queda de Adão no paraíso já se achava nos escritos de Irineu.

a) O GNOSTICISMO - Considerava o mal inerente á matéria e, como tal, produto do Demiurgo. O contato da alma com a matéria imediatamente a tornou pecaminosa
b) ORÍGENES – Procurou manter isso com a sua teoria do preexistencialismo. Segundo ele, as almas dos homens pecaram voluntariamente numa existência anterior e, portanto, entraram no mundo numa condição pecaminosa.

c) KANT – Este considerava o pecado como uma coisa pertencente á esfera supre-racional, que ele confessava não ter condições de explicar.

d) CONCEITO GERAL – Em geral os chamados pais da igreja grega, do terceiro e quarto séculos, mostrava certa inclinação para reduzir a ligação entre o pecado de Adão e o dos seus antecedentes, ao passo que os “pais” da igreja latina analisava cada vez com maior clareza que a atual condição pecaminosa do homem encontra a sua explicação na primeira transgressão de Adão no paraíso.
Concluímos este ponto, o pecado do homem está ligado á sua condição de criatura. A narrativa do paraíso apenas transmite ao homem a prazerosa informação de que ele não tem por que ser necessariamente um pecador

2 – O CONCEITO BÍBLICO DA ORÍGEM DO PECADO

Na Escritura, o mal moral existente no mundo transparece claramente como pecado, isto é, como transgressão da lei de Deus. Nela o homem sempre aparece como transgressor por natureza, e surge naturalmente a questão: como adquiriu ele essa natureza? Que diz a Bíblia sobre este ponto?

a) DEUS NÃO É O AUTOR DO PECADO: O decreto eterno de Deus evidentemente deu a certeza de entrada do pecado no mundo, mas não se pode interpretar isso de modo que faça de Deus a causa do pecado no sentido de ser Ele o seu autor responsável. Esta idéia é claramente excluída pela Escritura.
Ele é santo Deus, Is 6:3, e absolutamente não há falta de retidão nele, Dt 32:4; Sl 92:16. Ele não pode ser tentado pela mal, e Ele próprio não tenta a ninguém, Tg 1:13. Quando Deus criou o homem, criou-o bom e á Sua imagem. Ele positivamente odeia o pecado, Dt 25:16; Sl 5:4 11:5; Zc 8:17 e Lc 16:15.
Deus em Cristo fez provisão para libertar do pecado o homem. A luz disso tudo, seria blasfemo falar de Deus como o autor do pecado.

b) O PECADO ORIGINOU-SE NO MUNDO ANGÉLICO: A Bíblia nos ensina que, na tentativa de investigar a origem do pecado, devemos retornar á queda do homem, na descrição de Gn 3 e fixar a atenção em algo que sucedeu no mundo angélico.
Deus criou um grande número de anjos, e estes eram todos bons, quando saíram das mãos do seu Criador, Gn 1:31. Mas ocorreu uma queda no mundo angélico, queda na qual legiões de anjos se apartaram de Deus, Ez 28:11-19; Is 14:12-15.
Não estavam contentes com a sua parte, com o governo e o poder que lhes foram confiados. Se o desejo de serem semelhantes a Deus foi á tentação peculiar que sofreram, isto explica por que tentaram o homem nesse ponto particular.

c) A ORÍGEM DO PECADO NA RAÇA HUMANA: Com respeito á origem do pecado na história da humanidade, a Bíblia ensina que ele teve início com a transgressão de Adão no paraíso e, portanto, com um ato perfeitamente voluntário da parte do homem.
Esse pecado trouxe consigo corrupção permanente, corrupção que, dada a solidariedade da raça humana, teria efeito, não somente sobre Adão, mas também sobre todos os seus descendentes. Com resultado da queda, o pai da raça só pode transmitir uma natureza depravada ao pósteros.
Mas ainda isso não é tudo. Adão pecou não somente como o pai da raça humana, mas também fomo chefe representativo de todos os seus descendentes; e, portanto, a culpa de seu pecado é posta na conta deles, pelo que todos são passíveis de punição e morte. É primeiramente nesse sentido que o pecado de Adão é o pecado de todos.
Deus adjudica a todos os homens a condição de pecadores culpados em Adão, exatamente como adjudica a todos os crentes a condição de justos em Jesus Cristo.
III) AS SETE TEORIAS DO PECADO

Consideremos abreviadamente algumas das mais importantes teorias filosóficas sobre o pecado. O pecado é um dos mais tristes fenômenos da vida humana, e também o mais comum.

1 – TEORIA DUALISTA: Esta é uma das teorias que foram comuns na filosofia grega. Na forma do Gnosticismo, conseguiu penetrar na igreja primitiva. Admite a existência de um princípio eterno do mal, e sustenta que no homem o espírito representa o princípio do bem, e o corpo, o do mal. Segundo essa teoria, o único meio de escaparmos do pecado consiste em livrar-nos do corpo.

2 – TEORIA DE QUE O PECADO É MERA PRIVAÇÃO: De acordo com Leibnitz, a existência do pecado deve ser considerada inevitável. O pecado não pode ser atribuído á ação pessoal de Deus e, portanto, deve ser considerado como simples negação ou privação sem necessidade de nenhuma causa eficiente.
As limitações da criatura o tornam inevitável. Sua tentativa de evitar fazer de Deus o autor do pecado não tem bom êxito, pois, mesmo que o pecado fosse apenas uma negação sem nenhuma causa eficiente, Deus seria, não obstante, o autor da limitação da qual ele resultaria.

3 – TEORIA DO ATAÍSMO: O ateísmo ao negar a Deus, nega também, o pecado, porque, estritamente falando, todo pecado é contra Deus; e se não há Deus, não há pecado. O homem pode ser culpado de pecar em relação a outros; pode pecar contra si mesmo, porém estas coisas constituem pecado unicamente em relação a Deus. Portanto, o homem necessita do perdão baseado em uma provisão divina de expiação.

4- TEORIA DO DETERMINISMO: É a teoria que afirma ser o livre arbítrio uma ilusão e não uma realidade. Nós imaginamos que somos livres para fazer nossa escolha, porém, realmente nossas opções são ditados por impulsos internos e circunstâncias que escaparam ao nosso domínio.
Mas as Escrituras afirmam invariavelmente que o homem é livre para escolher entre o bem e o mal – uma liberdade implícita em todos os mandamentos e exortações. Longe de ser vítima da fatalidade e casualidade, declara-se que o homem é o árbitro do seu próprio destino.
Uma conseqüência prática do determinismo é tratar o pecado como se fosse uma enfermidade por cuja causa o pecador merece dó ao invés de ser castigado. Porem, a voz da consciência que diz: “eu devo” refuta essa teoria.

5 – TEORIA DO HEDONISMO: (da palavra grega que significa “prazer”) é a teoria que sustenta que o melhor ou o mais proveitos que existe na vida é a conquista do prazer e a fuga á dor; de modo que a primeira pergunta que se faz não é: “Isto é correto?” Mas: “Trará prazer?”.
Eles desculpam o pecado com expressões como estas: “Errar é humano”; “o que é natural é belo e o que é belo é direito”. No fundo dessa teoria está o desejo de diminuir a gravidade do pecado, e ofuscar a linha divisória entre o bem e o mal, o certo e o errado.
A admoestação divina para aqueles que procuram confundir as distinções morais, é: “Ai daqueles que chama o mal de bem e o bem de mal”.

6 – TEORIA DA CIÊNCIA CRISTÃ: Esta seita nega a realidade do pecado. Declara que o pecado não é algo positivo, mas simplesmente a ausência do bem. Nega que o pecado tenha existência real e afirmam que é apenas um “erro da mente moral”.
As Escrituras denunciam o pecado como uma violação positiva da Lei de Deus, como uma verdadeira ofensa que merece castigo real num inferno real.

7 – TEORIA DA EVOLUÇÃO: Esta teoria considera o pecado como herança do animanismo primitivo do homem. Disso, os animais não pecam; eles vivem segundo sua natureza, e não experimentam nenhum sentido do culpa por seu comportamento.
É certo que o homem tem uma natureza física, porém, essa parte inferior de seu ser foi criação de Deus, e é plano de Deus que esteja sujeita a uma inteligência divinamente iluminada.
O defeito radical dessas teorias todas é que procuram definir o pecado sem levar em consideração que o pecado é essencialmente o abandono de Deus, a oposição e a transgressão da Lei de Deus.

IV) DEFINIÇÃO BÍBLICA DE PECADO

Ao dar a idéia bíblica do pecado, é necessário chamar a atenção para diversas particularidades.

1 – O PECADO É O MAL NUMA CATEGORIA ESPECÍFICA: Hoje em dia ouvimos falar muito do mal, e relativamente pouco do pecado; e isso é muito enganoso. Nem todo mal e pecado. Não se deve confundir o pecado como mal físico, com aquilo que é danoso ou calamitoso.
Pecado não pe uma calamidade que sobreveio inopinadamente ao homem, envenenou sua vida e arruinou sua felicidade, mas um curso que o homem decidiu seguir deliberadamente e que leva consigo miséria inaudita.
O pecado é o resultado de uma escolha livre, porém, má, do homem. Este é o ensino claro da Palavra de Deus, Gn 3:1-6; Is 48:8; Rm 1:18-32 e 1 Jo 3:4.

2 – O PECADO TEM CARÁTER ABSOLUTO: Na esfera ética, o contraste entre o bem e o mal é absoluto. Não há condição neutra entre ambos. A transição entre o bem e o mal não é de caráter quantitativo, e, sim, qualitativo.
Um ser moral bom não torna mal por uma simples diminuição da sua bondade, mas somente por uma mudança qualitativa radical, por um volver ao pecado. O pecado não é um grau menor de bondade, mas um mal positivo.
Isso é ensinado claramente na Bíblia. Quem não ama a Deus é, por isso caracterizado como mal. O homem está do lado certo ou do lado errado, (Mt 10:32, 33; 12:30; Lc 11:23; Tg 2:10). A Escritura não reconhece nenhuma posição de neutralidade.

3- O PECADO SEMPRE TEM RELAÇÃO COM DEUS E SUA VONTADE: Os mais antigos teólogos compreenderam que á impossível ter uma correta concepção do pecado sem vê-lo em relação a Deus e Sua vontade e, portanto, acentuavam esta aspecto e normalmente falavam do pecado como “falta de conformidade com a Lei de Deus”.
As seguintes passagens mostram claramente que a Bíblia vê o pecado em relação a Deus e Sua Lei, quer como Lei escrita nas tábuas do coração, quer como dada por meio de Moisés, (Rm 1:32; 2:12-14; 4:15; Tg 2:9; 1 Jo 3:4).

4 – O PECADO INCLUI A CULPA E A CORRUPÇÃO: A culpa é o estado de violação de uma lei ou de uma exigência moral. Ela expressa a relação do pecado com a justiça ou da penalidade com a lei.
È inseparável do pecado, jamais se encontra em quem não é pessoalmente pecador, e é permanente, de modo que, uma vez estabelecida, não pode ser removida pelo perdão.
Embora muitos neguem que o pecado inclui culpa, essa negação não se harmoniza com o fato de que o pecado é a ameaçado com castigo, e de fato o recebe, e evidentemente contradiz as Escrituras, Mt 6:12; Rm 3:19; 5:18; Ef 2:3.
Por corrupção entendemos a corrosiva contaminação inerente, a que todo pecador está sujeito. É uma realidade na vida de todos os indivíduos. É inconcebível sem a culpa, embora a culpa, como incluída numa relação penal, seja concebível sem a corrupção.
Mas é sempre seguida pela corrupção. Todo aquele que é culpado em Adão, também nasce com uma natureza corrupta, em conseqüência. Ensina-se claramente a doutrina da corrupção do pecado em passagens como: Jô 14:4; Jr 17:9; Mt 7:15-20; Rm 8:5-8; Ef 4:17-19.

5 – O PECADO TEM SUA SEDE NO CORAÇÃO: O pecado não resida nalguma faculdade da alma, mas no coração, que na psicologia da Escritura é o órgão da alma, onde estão as saídas da vida. E desse centro, sua influência e suas operações espalham-se para o intelecto, á vontade, as emoções – em suma, a todo o homem, seu corpo inclusive.
Esta maneira de ver está em perfeita harmonia com as descrições Bíblicas, em passagens como as seguintes: Pv 4:23; Jr 17:9; Mt 15:19-20; Lc 6:45 e Hb 3:12.

6 – O PECADO NÃO CONSISTE APENAS DE ATOS MANIFESTOS: O pecado não consiste somente de atos patente, mas também de hábitos pecaminosos e de uma condição pecaminosa da alma. Estes três âmbitos se interrrelacionam do seguinte modo: O estado pecaminoso é á base dos hábitos pecaminosos, e estes se manifestam em ações pecaminosas.
E se for necessário levantar a questão sobre se os pensamentos e os sentimentos do homem natural, chamado “carne” na Escritura, devam ser considerados como constituindo pecado poder-se-ia responder: indicamos passagens como as seguintes: Mt 5:22, 28; Rm 7:7; Gl 5:17, 24 e outras.
Em conclusão, pode-se dizer que se pode definir o pecado como falta de conformidade com a lei moral de Deus, em ato, disposição ou estado.

V – A UNIVERSALIDADE DO PECADO

Poucos se inclinarão a negar a presença do mal no coração humano, mas há divergências quanto à natureza desse mal e quanto ao modo como se originou. Mesmo os pelagianos e os socinianos estão prontos a admitir que o pecado é universal.

1 – A TRIPLICE EVIDÊNCIA DA UNIVERSALIDADE DO PECADO

A) A HISTÓRIA DAS RELIGIÕES: A história das religiões dão testemunhos da universalidade do pecado. As religiões pagâs atestam uma consciência universal do pecado, e a necessidade de reconciliação com o Ser Supremo. Há um sentimento generalizado de que os deuses estão ofendidos e devem ser aplacados de alguma forma.
Há uma vós universal da consciência dando testemunho do fato de que o homem carece do ideal e está condenado á vista de algum Poder mais alto.
Altares cheirando ao sangue dos sacrifícios, muitas vezes dos sacrifícios de filhos queridos, repetidas confissões de mas ações, e orações para livramento do mal – tudo aponta para a consciência de pecado.

B) A HISTÓRIA DA FILOSOFIA: A História da filosofia indica o mesmo fato. Os mais antigos filósofos gregos já tiveram que lutar com o problema do mal moral, e desde a época deles, nenhum filósofo de renome pode ignorá-lo.
Todos foram constrangidos a admitir a sua universalidade, e isso a despeito do fato de que não foram capazes de explicar o fenômeno.

C) A POSIÇÃO BÍBLICA: Há inequívocas declarações da Escrituras que indicam a pecaminosidade universal do homem, como nas seguintes passagens: 1 Rs 8:46; Sl 143:2; Pv 20:9; Rm 3:1 e outras.
Em Efésios 2:3 diz o apóstolo Paulo que os Efésios eram “por natureza filhos da ira, como também os demais”. Nesta passagem a expressão “por natureza” indica uma coisa inata e original, em distinção daquilo que é adquirido.
De acordo com as Escrituras, a morte sobrevém mesmo aos que nunca execeram uma escolha pessoal e consciente, Romanos 5:12-14. Esta passagem implica que o pecado existe no caso de crianças, antes de possuírem discernimento moral. Desde que sucede que crianças morrem e, portanto, o efeito do pecado está presente na situação delas, é simplesmente natural supor que a causa também está presente.
Finalmente, as Escrituras ensina também que todos os homens se acham sob condenação e, portanto, necessitam de redenção que há em Cristo Jesus. Nunca se declara que as crianças constituem exceção a essa regra Jô 3:3, 5; 1 Jo 5:12.
Quando Adão pecou, CAIU, e em sua queda levou toda a raça humana, pois ele era o pai e cabeça da raça, era a raiz da humanidade. Daí o fato de chamar-se de pecado original, ou seja, pecado da raça. Quanto aos outros pecados de Adão, não tiveram mais importância na geração, pois eram pecados pessoais.
Eles confirmaram a queda, mas eram pecados da exclusiva responsabilidade de Adão. Quando Adão pecou, estabeleceu um triste princípio para os homens: todos os seus descendentes nasceram (ou nascem) no mesmo estado em que ele caiu. A Bíblia define essa situação com três denominações distintas:
A) – estado de depravação – Gn 6:5; Sl 14:3; Rm 7:18.
A) – estado de culpa – Mt 10:15.
A) –estado de pena – Rm 5-12.

VI) A NATUREZA DO PECADO

1 - SEU CARÁTER FORMAL: Pode-se dizer que, numa perspectiva puramente formal, o primeiro pecado do homem consistiu em comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Não sabemos que espécie de árvore era. Nada havia de ofensivo no fruto da árvore como tal. O pecado estava simplesmente na desobediência á ordem de Deus.
Não há opinião unânime quanto ao motivo pela qual a árvore foi denominada do conhecimento do bem e do mal. É muito mais provável que a árvore foi denominada desse modo porque fora destinada a revelar: (a) se o estado futuro do homem seria bom ou mal; e (b) se o homem deixaria que Deus lhe determinasse o que era bom ou mal, ou se encarregaria de determiná-lo por si e para si.
Mas, seja qual for á explicação que se de do nome, a ordem dada por Deus para não comer da árvore serviu simplesmente ao propósito de por a prova a obediência do homem. Foi um teste de pura obediência, desde que Deus de modo nenhum procurou justificar ou explicar a proibição. Adão tinha que mostrar sua disposição para submeter a sua vontade á vontade do seu Deus com obediência implícita.

2 – A TRIPLICE MANIFESTAÇÃO DO PECADO: O pecado geralmente se manifesta em três direções:

A) Para Deus, em forma de rebelião, de falta de amor, 1 Sm 15:23; Dt 6:5.
B) Para o homem, igualmente com absoluta falta de amor, Lv 19:13; Mq 6:8; Rm 1:18.
C) Para o próprio pecador, em forma de egoísmo, de corrupção de valores, Mt 16:24; Jô 12:25; Sl 51:5; Rm 7:18.

Á vontade de Deus é desobedecida em toda manifestação do pecado, voluntária ou inconscientemente, Nm 15:30; Sl 19:13; Nm 15:27; Hb 9:7. O homem não é intrinsecamente responsável por haver nascido em pecado, mas é absolutamente responsável por todos os pecados que pratica.

3 – O TESTEMUNHO DA HUMANIDADE E DA CONSCIÊNCIA: Porque existem leis que castigam os crimes? Porque testemunhas da realidade e da natureza do pecado. As religiões pagâs oferecem sacrifícios em favor da purificação de almas. Isto é outro testemunho. Na própria literatura secular existem evidências sobejas do testemunho da consciência do pecado.
O grande filósofo Sêneen disse: “Todos temos pecados, uns mais, outros menos.” “Existe um provérbio chinês que afirma:” “Há somente dois homens bons na terra; um esta morto o outro ainda não nasceu”. Quanto no testemunho da consciência é por demais evidente em cada criatura.
A Bíblia ensina que o pecado é uma VIOLAÇÃO, 1 Jo 3:4. Que o pecado é um estado espiritual, a ausência de retidão, Rm 7:8, 11, 13, 14, 17, 20.

VII) O PRIMEIRO PECADO E A QUEDA OCASIONADA PELA TENTAÇÃO

Á narrativa em questão é GÊNESIS 3:1-19. Façamos juntos á leitura e examinemos as implicações teológicas do texto:

1 – O PROCEDIMENTO DO TENTADOR: A queda do homem foi ocasionada pela tentação da serpente, que semeou na mente do homem as sementes da desconfiança e da descrença. Embora indubitavelmente a intenção do tentador fosse levar Adão, o chefe da aliança, a cair, não obstante dirigiu-se a Eva, provavelmente por três motivos:
A) Eva não exercia a chefia na aliança e, portanto, não teria o mesmo senso de responsabilidade.
B) Eva não recebeu diretamente a ordem de Deus, mas apenas indiretamente, seria mais susceptível de ceder á argumentação e duvidar.
C) Eva seria sem dúvida o instrumento mais eficiente para alcançar o coração de Adão.

O curso seguido pelo tentador é bem claro. Em primeiro lugar, ele semeia as sementes da dúvida pondo em questão as boas intenções de Deus e insinuando que Suas ordens era realmente uma violação da liberdade e dos direitos do homem.

2 – A SERPENTE, O FRUTO DA ÁRVORE E O JARDIM:
Alguns acham que toda narrativa de Gênesis 3 é uma alegoria que representa figuradamente a autodepravação do homem e sua mudança gradativa. Barth e Brunner consideram a narrativa do estado original e da queda do homem um mito. Na verdade, a Bíblia opõe-se a estes pensamentos.

A) A SERPENTE: Há estudiosos, que não negam o caráter histórico de Gênesis, afirmam que pelo menos a serpente não deve ser considerada como um animal literal, mas apenas como um nome ou um símbolo da cobiça, do desejo sexual, do raciocínio pecaminoso, ou de Satanás. Ainda outros asseveram que, para dizer o mínimo, o falar da serpente deve ser entendido figuradamente.
Certamente a serpente é considerada como um animal em Gn 3:1, e não daria bom sentido substituir “serpente” por Satanás. O castigo de que fala Gn 3:14-15, pressupõe uma serpente literal, e Paulo não a entende doutro modo, em II Cor 11:3.
As Escrituras da a entender claramente que a serpente foi apenas um instrumento de Satanás, e que Satanás foi o real tentador, que agiu na serpente e por meio dela, como posteriormente agiu em homens e em porcos, Jô 8:44; Rm 16:20; II cor 11:3; Ap 12:9. A serpente foi um instrumento próprio para Satanás, pois ele é a personificação do pecado e a serpente simboliza o pecado: (a) em sua natureza astuta e enganosa; e (b) em sua picada venenosa, com a qual mata.

B) O FRUTO PROÍBIDO DA ÁRVORE: Houve, no passado, resultado de filosofias gnósticas, uma crença de que tudo o que procedia da carne era vil. Isto levou alguns teólogos a crerem que o fruto proibido foi símbolo do ato sexual entre Adão e Eva. Mas, a leitura do texto pede uma interpretação, mas direta. Houve uma árvore e houve a violação da Palavra que Deus havia proferido. Esta transgressão ocorreu pela ingestão de algum tipo de fruto comestível. A linguagem desta passagem não nos força a fazer outro tipo de inferência.
Sua essência, no entanto, nos leva a entender que o pecado teve sua raiz, não na fome ou no apetite, mas no coração. O desejo de ter independência de Deus foi um pecado do coração. Foi ato de rebelião resultante do desejo de ser dono de si mesmo que fez com que o homem caísse no jardim.
O pecado teve outros aspectos: a concupiscência incontrolável de algo dos sentidos (desejo incontrolável) dos sentidos (agradável aos olhos), a concupiscência da carne (boa para comer) e a soberba da vida (desejável para dar entendimento).
Estes três aspectos da tentação tem estado sempre presentes e em 1 Jo 2:16, o apóstolo nos adverte que tais coisas procedem do mundo e não do Pai. É importante lembrar que Deus tinha dado ao casal o domínio do jardim. Cabia a eles até expulsar a serpente da sua presença. Mas, eles lhe deram ouvidos e se deixaram seduzir pelos seus argumentos.

C) O PROCESSO DA TENTAÇÃO: Vejamos resumidamente os três processos da tentação, que levou Adão a cair de sua posição de glória:
· Primeiro, Satanás exagerou (e levou Eva a fazê-lo também) a proibição de Deus. Deus tinha mandado que não comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas havia dado ao homem todas as árvores. A tentação começa por fazer o homem se sentir privado de algo, quando, de fato, Deus é muito generoso; Satanás fez a mulher pensar somente no fruto proibido menosprezando as dádivas do Senhor.

· Segundo, Satanás cria dúvidas sobre a Palavra de Deus. “Será que Deus falou?” Em seguida, ele cria desconfiança sobre os motivos de Deus. Ele chega a questionar a veracidade do aviso divino, “certamente não morrerás...”

· Terceiro, a mulher cedeu ás meias verdades. Mas, isto não diminuiu o fato de que ela e o homem comeram em desobediência a Deus e trouxerem sobre si as conseqüências previstas.

(VIII) OS EFEITOS DO PECADO

A penalidade com a qual Deus ameaçou o homem no paraíso foi pena de morte. A morte que aqui se tem em mente não é a morte do corpo, mas a morte do homem total, morte no sentido bíblico da Palavra.
A pena foi também executada efetivamente no dia em que o homem pecou, embora a plena execução dela tenha sido sustada temporariamente pela graça de Deus.
A penalidade do pecado certamente inclui a morte física, mas inclui muita mais que isso. Fazendo distinção a que estamos acostumados, podemos dizer que ela inclui os seguintes fatos:

1) MORTE ESPIRITUAL: O pecado separa de Deus o homem, e isso quer dizer, morte, pois é só na comunhão com o Deus vivo que o homem pode viver de verdade. No estado da morte, que resultou da entrada do pecado no mundo, levamos o fardo da culpa do pecado, culpa que só ode ser removida pela obra redentora de Jesus Cristo.
A morte espiritual significa, não somente culpa, mas também corrupção. O pecado é sempre uma influência corruptora na vida, e isso é parte da nossa morte. Por natureza somos, não somente injustos aos olhos de Deus, mas também impuros.
E se não fosse a influência restringente da graça de Deus, tornaria a vida social inteiramente impossível.

2) OS SOFRIMENTOS DA VIDA: Os sofrimentos da vida, que resultam da entrada do pecado no mundo, também estão incluídos na penalidade do pecado. O pecado produziu distúrbios em todos os aspectos da vida do homem. Sua vida física caiu presa de fraquezas e doenças, que redundam em desconforto e, muitas vezes, em penosas agonias; e sua vida mental ficou sujeita a perturbações angustiantes, que muitas vezes o privam da alegria de viver, desqualificam-no para o seu labor diário e, por vezes, destroem por completo o seu equilíbrio mental.
Muitas vezes as forças destruidoras são liberadas causando terremotos, ciclones, tornados, erupções vulcânicas e inundações que trazem indescritíveis misérias á humanidade. Contudo, não será seguro particularizar e interpreta-las como punições especiais por graves pecados cometidos pelos que vivem nas áreas atingidas.
Devemos ter sempre em mente que há uma responsabilidade coletiva, e que sempre há motivos suficientes para Deus visitar cidades, regiões ou países com calamidades medonha.
É bom ter sempre em mente que Jesus disse uma vez aos judeus que lhe trouxeram informações sobre uma calamidade que sobreviera a certos galileus, e evidentemente insinuaram que aqueles galileus deviam ter sido grandes pecadores, Lc 13:2-5.

3 – A MORTE FÍSICA: A separação do corpo e alma também faz parte da penalidade do pecado. Que o Senhor tinha isto em mente também na penalidade ameaçada é mais que evidentemente na explicação dele feita com as palavras: “tu és pó e ao pó tornarás”, Gn 3:19. Também transparece na argumentação de Paulo em Rm 5:12-21, e em 1 Cor 15:12-23.
A posição da Igreja sempre foi que a morte, no pleno sentido da palavra, incluía a morte física, não é somente conseqüência, mas, também, penalidade do pecado. O salário do pecado é a morte.

4 – A MORTE ETERNA: Esta pode ser considerada como a culminância e a consumação da morte espiritual. As restrições do presente desaparecem, e a corrupção do pecado tem a sua obra completa. O peso total da ira de Deus desce sobre os condenados, e isto significa morte no sentido mais terrível da palavra.
A condenação eterna deles elevada a corresponder ao estado interno das suas ímpias almas. Há angustias de consciência e sofrimentos físicos, Ap 14:11. A consideração mais ampla deste assunto pertence á escatologia.

5 – DESFIGURAÇÃO DA IMAGEM DIVINA: O homem não perdeu completamente a imagem divina, porque ainda em sua posição decaída é considerado uma criatura á imagem de Deus Gn 9:6; Tg 3:9. Apesar de não estar inteiramente perdido, a imagem divina no homem encontra-se muito desfigurada. Jesus Cristo veio ao mundo tornar possível ao homem a recuperação completa da semelhança divina por ser recriado á imagem de Deus Gl 3:10.

6 – PECADO INERENTE: (ou pecado original). O efeito da queda arraigou-se profundamente na natureza humana que Adão, como pai da raça, transmitiu a seus descendentes a tendência ou inclinação para pecar, Sl 51:5. Esse impedimento espiritual e moral, sob o qual os homens nascem, é conhecido como pecado original.

7 – DISCÓRDIA INTERNA: No princípio Deus fez o corpo do homem do pó, dotando-o, desse modo, de uma natureza física ou interior; depois soprou em seu nariz o fôlego da vida, comunicando-lhe assim uma natureza mais elevada, unindo-se a Deus. Era o propósito de Deus a harmonia do ser humano, ter o corpo subordinado á alma.
Mas o pecado interrompeu a relação de tal maneira que o homem se encontrou dividido em si mesmo; o “eu” oposto ao “eu” em uma guerra entre a natureza superior e a inferior.

CONCLUSÃO

Embora o homem tenha pecado e através desse ato de desobediência, permeou o pecado em todas as camadas sociais, como até mesmo na esfera espiritual de sua vida. A Bíblia declara que ainda há esperança em Cristo
O pecado destituiu o homem da graça de Deus, mais Cristo morreu há seu tempo para nos resgatar da maldição do pecado Gl 3:13. Á verdade é que; quando tudo parecia impossível Rm 8:3, para a humanidade, Deus enviou o seu Filho em semelhança da carne para nos conceder, a liberdade.
Portanto, glorifiquemos o nome daquele que como Cordeiro morto, mas vivo eternamente derramou seu sangue por nós.





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BIBLIOGRAFIA

· Berkhof Louis – Teologia Sistemática, Editora: Luz para o Caminho Publicações, Campinas, 1990.
· Apostila do SETEB, Vol 2, Igreja Pentecostal de Nova Vida.
· Perlman, Mayer – Conhecendo as Doutrinas da Bíblia – Editora Vida.
· Apostila de Hamartiologia do IBADERJ.